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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Apostas de turnaround da Carteira Batalha - Rumo (RAIL3) e OI (OIBR3)

O sonho de grande parte das pessoas que investem na bolsa de valores é acertar aquela "grande tacada". Comprar uma ação nas mínimas e levar ela ao topo. Algo como o maior caso de turnaround recente da nossa bolsa: Magazine Luiza (MGLU) -> uma ação que vale hoje cerca de R$35, chegou a valer R$0,12 em 14 de dezembro de 2015. Quase 300x de valorização!

Iphone x MGLU3

Será que vale a pena arriscar para tentar achar a próxima MGLU?

Esse tipo de investimento vai quase que contra tudo o que acredito, mas acho que pode valer a pena desde que não seja comprometido uma parcela muito grande do seu patrimônio nisso e que você estude muito bem o case antes de tomar qualquer atitude.

Investimentos de risco elevado só podem ser feitos num nível em que você possa tolerar as perdas, ou seja, colocar aquele dinheiro que se você perder o seu mundo não vai acabar.

Eu costumava colocar no máximo 5% do meu portfólio em "apostas", mas hoje em dia reduzi para 3% (criptomoedas também estão nessa classificação). Além disso, considero uma boa colocar entre 0,5% e 1% em cada ativo, conforme recomenda esse ótimo vídeo do Canal do Holder.

Se a aposta der certo, vem depois a decisão de continuar e se beneficiar do fato de ter virado um bom ativo, entrando assim na carteira de buy and hold, caso atenda aos critérios.


Rumo (RAIL3): Por que entrei nessa

De todos os papéis que tive até hoje, foi minha primeira aposta desse tipo. Admito que foi dica daquele barbudinho chato da Empiricus, durante o ano em que cheguei a assinar. Na verdade foi um amigo que me deu a dica. Li o relatório e comprei a ideia.

Eram mais de 20 páginas onde ele detalhava muito bem todo o case. Resumindo: somos muito dependentes da malha rodoviária para escoamento da produção agrícola. Sentimos isso na pele no impacto causado pela greve dos caminhoneiros em 2018.

Para crescer mais o Brasil precisa de uma melhor infraestrutura logística. 65% do transporte de mercadorias é feito pelo modal rodoviário, 26% ferroviário e 9% hidroviário. Há uma demanda não atendida e com isso uma enorme perspectiva de expansão.

Na época, setembro de 2016, o relatório prometia um ganho de 400% no melhor cenário e 90% no pior. 2 anos e 4 meses depois estou com um ganho de 225%. Na Carteira Batalha de ações ela só perde para Eztec, que está com um rendimento louco de 270% hoje.

Decola, tremzinho!

Um outro motivo pelo qual entrei: A empresa tem uma relação com o setor agrícola, que cresceu até mesmo durante esse tempo de crise. Eu gostaria de ter alguma exposição nesse setor, nem que fosse indiretamente.

Entrei em RAIL3 com cuidado colocando por meta na época apenas 2,5% da minha carteira de ações, mas diante da evolução da empresa, já estou projetando um bom aumento de participação na carteira.

Tem dado certo até então. Conseguiu seu primeiro trimestre de lucro desde 2012. Me impressiona também a quase unanimidade de gestores de fundos que acompanho que também estão comprados em Rumo.


OI (OIBR3): Por que entrar em algo tão ruim?

Antes de mais nada, gostaria de adiantar que essa é uma das piores empresas que eu já analisei em toda a minha vida. Procure no Google a história dela e você vai entender. Tudo de ruim que você possa imaginar ela já passou...

A ação já chegou a valer R$360 e a pouco tempo bateu cerca de R$0,70. Ah e não esqueça que está em recuperação judicial...

Entrei nela a R$0,80 (com um mínimo de capital, claro) pois ela já estão tão no fundo que mesmo que se acabe perderei algo que posso suportar. Mas por que ela entrou na CZB? Após várias pesquisas reuni algumas informações que me fizeram entrar nessa.



O ruim

Na verdade, o péssimo: a situação atual. Entra R$4,5 bi de caixa operacional/ano com saídas de R$7 bi. Prejuízo acumulado: R$11 bi.

O bom

Somente as perspectivas e possibilidades, que são várias:
  • Venda de participação na angolana Unitel = R$4 bi
  • Venda de torres + data center = R$650 mi
  • Venda de rede de fibra ótica = R$1 bi
  • Venda de imóveis = R$1 bi
  • Venda da Unitel = R$4 bi
  • Créditos ligados a PIS/Cofins = R$2 bi (com expectativa de mais R$1 bi)
  • Dedução de IR pode chegar a até R$ 3,7 bi
  • Aprovação do PLC 79 é o fator mais recente que pode ajudar a cotação a subir
Claro que muita coisa pode acontecer, inclusive nada… Há muita boataria que pode ser vendida pra TIM, alguma chinesa, até AT&T entrou na história...


E atenção - Disclaimer:

Mais do que nunca eu reforço que nada disso é recomendação de compra. É só a p*rra da minha opinião...


E fechando o mês de agosto...

A CZB teve um rendimento de -1,22% perdendo para o IBOV e seus -0,67%. No acumulado do ano temos um ganho de 8,62%. A CZB-Ações rendeu -1,98% e o acumulado do ano 9,66%.

domingo, 18 de agosto de 2019

Recessão global? Próxima grande crise?

Esta última semana foi de muita tensão nos mercados como há muito não se via: China e Alemanha (o motor da Europa) em desaceleração, seguindo o caminho de outras economias relevantes do velho continente, como Itália e Reino Unido; Estados Unidos com curva de juros indicando recessão; e com tudo isso o IBOV voltou pra menos de 100K...



Uma das coisas mais bacanas que li na blogosfera financeira ultimamente foi:

"Estude crashes passados: Com sua carteira atual, tente simular o que teria acontecido no pior momento da economia nos últimos tempos. Simule qual o valor da sua carteira no pior momento e o que isto teria significado para você."

Seguindo o conselho vou tentar simular uma crise como a de 2008 -> a bolsa no Brasil caiu 50% em 6 meses e demorou 16 meses para voltar ao patamar, mas depois ainda caiu 50% até 2015.

Na minha simulação a Carteira Batalha de Ações perde metade do seu valor também. A queda na carteira como um todo seria hoje de 27,40%. A diversificação em outros ativos acaba protegendo a carteira de uma queda maior. Penso que haveria uma grande alta nas criptomoedas em um cenário desses, o que reduziria minhas perdas, mas considerei um cenário menos otimista.

O rendimento é calculado com a marcação a mercado, mas eu não venderia nada, ao contrário: eu compraria barato. Isso faz reduzir meu preço médio nos papéis e aumentar os ganhos no longo prazo.

Essa é a grande vantagem dessa estratégia. Não fico esquentando a cabeça tentando achar os melhores momentos de entrada e de saída de um papel colado num home broker. Análise técnica está aí pra isso, mas não é para todos. Conhecendo meu perfil vejo que também não é para mim... 

Quando eu venderia? Num cenário de desastre na minha vida em que eu precisasse de muito dinheiro e as minhas reservas em renda fixa ou possíveis empréstimos não fossem suficientes. Que Deus me livre que isso ocorra pois aí sim eu estaria relegado à sorte de um bom momento do mercado.


Qual o impacto até o momento?

Neste mês de agosto até esta última sexta 16/8 a CZB-Ações caiu 3,08% e o IBOV caiu 2,27%.

Nessas horas penso que deveria colocar um disclaimer sobre os resultados percentuais da Carteira Batalha, pois na verdade essa medição de rentabilidade de período não serve de muita coisa. Eu não sou gestor de carteiras pra precisar ter um bom track record...

É divertido, acho legal registrar pra comparar com outros índices. Há uma utilidade de ver como a carteira se comporta, mas no final o que vai fazer mesmo a diferença é o aporte e uma carteira bem diversificada com bons ativos no longo prazo.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Reforma da Previdência - O tamanho do problema e o preço a pagar

Ao mesmo tempo que comecei meus estudos sobre investimentos há 6 anos atrás, comecei a me interessar mais por economia. O aprendizado em ambos me ajuda muito a cada dia entender mais as regras do jogo, o que me tem feito errar cada vez menos nesta área e daí surgiu a Escola Zé Batalha de Economia.

Pretendo começar a falar sobre esse assunto mas sempre tentando ao máximo (por mais difícil que seja) não me ater ao lado político. Já faz um bom tempo que não tenho mais saco pra falar sério sobre política. Não vale a conversa. Muita lacração e pouco debate que traga algum aprendizado.

Aqui na blogosfera financeira me sinto mais à vontade de expor minha análise pois os debates tendem a ter qualidade muito maior do que os das redes sociais, mesmo havendo discordância, que é algo saudável, desde que bem embasada. Por isso optei por esse meio, contando com isso para continuar a postar sobre o tema.


"O Brasil que eu quero..."

O que algumas das nações que mais admiro e que parecem funcionar da melhor forma possível: Japão, Coreia do Sul, Alemanha, Áustria, Suíça, países nórdicos, entre outros, têm em comum?
1) Baixa taxa de juros
2) Baixa inflação

Claro que não é só isso que faz um país ser bem sucedido, claro que todos investiram muito em educação, mas também nunca deixaram de lado a austeridade fiscal. Desafio você a procurar algum país com alta taxa de juros e de inflação que seja próspero. Meu conceito de prosperidade não é ser somente o mais rico (tipo EUA), mas sim um bom PIB per capita, bom IDH, baixa desigualdade social.

Compare o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) desses países que citei. Eles têm o IDH dos meus sonhos. Há uma correlação quase que direta: 1º) Noruega: 0,953; 2º) Suíça: 0,944; 5º) Alemanha: 0,936 e por aí vai... Só a título de curiosidade: 79º) Brasil: 0,759... :-(

Estamos bem longe desses países, talvez a gente nunca chegue lá. Mas o caminho para chegar nem que seja um pouco perto do nível deles para mim está cada vez mais claro.


Por que a Escola Zé Batalha de Economia considera isso tão importante?

A matemática e a economia me ajudaram a entender que o maior flagelo que pode afetar os pobres é a inflação. Aqueles R$100 de gastos com alimentação que viram R$200 representam um aumento de 10% para 20% de quem ganha um salário mínimo. E um aumento de apenas 1% para 2% de quem ganha R$10000. Uma conta simples que não deixa dúvidas de quem sofre mais.

Nossa taxa de juros atual é 6%, incrivelmente a menor de nossa história. Há cerca de 15 anos atrás, era 25% e já foi bem maior do que isso.

Quando a taxa de juros é alta, vale mais a pena deixar o dinheiro guardado numa aplicação de renda fixa. Quando a taxa de juros é reduzida vale mais apenas investir em um negócio ou consumir => e é isso que puxa o crescimento da economia.

Por que o governo aumenta a taxa de juros? É o instrumento tradicional (longe de ser perfeito, mas é o que temos pra hoje) utilizado para controlar a inflação:

Inflação sobe acima do ideal => Taxa de juros é aumentada
Inflação controlada ou baixa => Taxa de juros é reduzida

Imagine uma empresa bem gerenciada com 1 bilhão em caixa. Com taxa de juros a 14%, como ocorreu há cerca de 3 anos, eles investem tudo em Selic e obtém um resultado financeiro sem esforço de 140 milhões num momento em que a economia está estagnada, lucrando muito mais do que poderiam com o seu próprio negócio. Num cenário econômico mais promissor, essa empresa teria investido na abertura de novas unidades -> o que proporcionaria mais empregos.

Cada queda na taxa de juros gera uma economia de dezenas de bilhões/ano ao país só com o pagamento de juros da dívida. Juros soberanos caem e empresas e pessoas também terão juros menores nos seus empréstimos, claro que longe do ideal mas há vários estudos do BC para implementar medidas com o objetivo de combater essa diferença.

Também estou ciente que no longo prazo o país vai precisar de mudanças estruturais para continuar crescendo. Não podemos contar apenas com as quedas nas taxas de juros


Mas como fica pra quem conta com renda fixa? O negócio é migrar pra renda variável?

Quem vive de rendimentos de renda fixa vai sofrer com essa tendência de baixa. Mas estou convicto que uma rentabilidade menor é um preço justo a pagar para ter um país com uma macroeconomia mais estável e previsível.

Já estamos vivendo uma tendência de procura por investimentos em renda variável que dão um rendimento melhor, obviamente aliado a risco. Fundos de pensão e pessoas físicas cada vez mais vão procurar investir nesses ativos o que deve ocasionar um aumento no rendimento dessas aplicações.

Os lucros das empresas aumentam com despesas financeiras mais baixas. As cotações seguem os lucros no longo prazo.


E a Reforma da Previdência, qual o tamanho do preço a pagar?

Nosso país é muito rico, mas extremamente endividado que testa limites do seu déficit desde 2013


A previdência é disparada a maior despesa entre os gastos primários do governo (que desconsidera a despesa com juros da dívida pública, o que merece uma postagem à parte). Os 767 bilhões gastos consomem TRÊS VEZES MAIS do que saúde (118 bi), educação (98 bi) e segurança pública (11,3) JUNTOS.


As despesas de pagamento do funcionalismo público e de previdência não se submetem ao teto de gastos. E olha só quais despesas têm crescido de forma descontrolada no decorrer dos anos:


E o que isso acarreta? O achatamento de todas as outras despesas, que todos nós claramente consideramos super importantes: educação, saúde, segurança e etc. O gráfico abaixo mostra claramente como elas ficariam cada vez mais comprometidas sem uma reforma.


As barras azuis e laranja são os gastos com previdência. Em 2026, em apenas 8 anos, praticamente 80% do gasto primário seria usado para despesas previdenciárias, sobrando cada vez menos dinheiro para os demais serviços básicos oferecidos pelo governo. E olha que ainda vivemos num país jovem. Quem investe em um país com essas perspectivas?

E para pagar as despesas deste ano e não incorrer em crime de responsabilidade foi necessário o presidente solicitar um crédito suplementar de R$250 BI. Ou seja: o governo já endividado de HOJE precisa de crédito extra para pagar as contas. Então devemos contar com uma promessa de que no futuro o estado vai dar conta de algo que ele não consegue atender hoje, mesmo com todas essas perspectivas de crescimento de despesas?

São somente 2 opções:
1) Com Reforma: diminuição do rítmo de crescimento das despesas com um mínimo de austeridade e controle => redução na taxa de juros => ambiente mais atrativo para investimentos => expansão ou criação de empresas => redução do desemprego. Sim, é óbvio: empresas buscam lucros, com isso produzem mais e consequentemente gerando mais empregos, o que faz a economia crescer. É assim que funciona.
2) Sem Reforma: para honrar os pagamentos, só restaria ao governo: A) aumentar (ainda mais) os impostos para tentar obter mais receita => mais sonegação e desemprego => empresas reduzem seus quadros funcionais para diminuir despesas e manter seus lucros. Para compensar o aumento de impostos as empresas também podem repassar a despesa para o consumidor final aumentando seus preços, o que causa aumento da inflação e pra combater essa inflação o governo aumenta a taxa de juros. B) governo emite moeda para pagar dívidas => aumento da inflação => mais uma vez aumento da taxa de juros.

Resumindo: o preço pode ser pago com 1) reforma da previdência ou 2) maior inflação e aumento na taxa de juros.

Um contra-argumento que sempre escuto é a menção à Dívida Pública/PIB elevada de alguns países desenvolvidos bem maiores que a nossa: Japão (253%), EUA (106%), Canadá (96%). Mas esses caras têm rating melhores, prazo e taxa de juros mais favoráveis que o nosso, por vezes até juros negativos. Em relação aos 3 citados, estas são as taxas atuais respectivamente: [-0,1%], [2,5%] e [1,5%]. Não dá para comparar. São economias muito mais sólidas e seguras.

"Estou esperando a economia decolar faz 3 anos..."

Sim. Eu também. Mas há um fator humano comportamental na retomada da economia que ninguém pode controlar. O governo pode tentar todas as medidas de estímulo que julgar necessárias mas a economia só vai sair do buraco no momento que o empresariado voltar a ter confiança para investir.

Não é de hoje que a previdência é um problema mundial em vários países com um mínimo de organização. Uma rápida busca no google te mostrará pelo menos 60 (não só desenvolvidos) que já tiveram de fazer isso.


CONCLUSÃO

A análises da Escola Zé Batalha de Economia procuram sempre ser pautadas com números e dados.

Sei que a reforma vai causar um impacto na população. Sei que para os mais pobres a aposentadoria é muitas vezes uma proteção contra o desemprego.

Tenho vários pontos de discordância com essa reforma e todas que já vi até hoje, mas conforme mostrei com os dados sei também que algo precisava ser feito. A meu ver, algumas das coisas que havia de pior tais como as mudanças no BPC foram retiradas.

Claro que se aposentar pelo INSS mais cedo ajudaria demais os meus planos de IF e o de tantas pessoas, mas sei que para isso primeiro o país precisa sair da trajetória de falência. Ninguém gosta de tomar uma injeção, ou fazer uma cirurgia. Mas às vezes é necessário para evitar algo muito pior lá na frente...

Qualquer que fosse a opção a gente iria se ferrar. Essa reforma só faz a população se ferrar menos, mas a verdade é que poucos conseguem ter uma visão do todo. Normal. A verdade é que governos devem ser vistos mais como instituições com as quais você deve se proteger do que com alguém que possa te ajudar...

[Atualizado - 12/11]: link da segunda e última parte desse artigo