terça-feira, 13 de outubro de 2020

Carteira e Análises - Zé Batalha - 3º Trimestre de 2020 - As incertezas de sempre...

CENÁRIO ATUAL

Foi um trimestre no qual descobrimos até que dá pra perder dinheiro em Tesouro Selic, por conta da dificuldade de rolagem da dívida que não ocorria desde 2002. Eu particularmente não sabia que ele podia render negativo em alguns momentos.

Apple, Amazon, Facebook e Google chegaram a valer mais de 5 tri, o PIB do Japão, terceira maior economia do mundo. Tesla chegou a gerar 25 bi de market cap num dia (20/8)...

Quando a gente vê coisas desse tipo é pra ficar com as barbas de molho mesmo. Tudo continua muito estranho.

O maior risco que vejo hoje para o Brasil é o elevado aumento de gastos do governo fazer a situação fiscal descontrolar de vez, causando grandes problemas no futuro. Não faz muito tempo, 2015/2016, tivemos a maior recessão da história no país por motivos similares.

No gráfico abaixo dos profissionais da Verde Asset vemos que o Brasil tem uma das maiores dívidas e também foi um dos que mais gastou na pandemia. 
 

Nossa dívida bruta pode passar de 100% do PIB em breve. Desde 1999, estamos resolvendo nossos problemas fiscais aumentando a carga tributária, mas ninguém aguenta mais aumento de imposto. 

Se a produtividade do país fosse das melhores as coisas poderiam até ser diferentes, mas na prática estamos longe disso.

A DÚVIDA DE SEMPRE: JUROS

A pergunta que não quer calar: como vai ficar a situação dos juros pelo mundo.

Quando a inflação aumenta, juros são elevados para tentar segurar ela. Estamos com taxas baixíssimas, algo nunca antes visto. 

A inflação bateu 0,64% em setembro, a tendência é de alta, mas creio que em um futuro próximo as coisas tendem a se ajustar. A elevada injeção de dinheiro na economia causou muitas anomalias.

Já o FED diz que leva essa situação de juro praticamente zero até 2023 aceitando inflação levemente acima de 2% em prol da queda do desemprego, pois eles têm mandato duplo, algo que não temos aqui.

Mas e no Brasil como fica? Estamos com apenas 2% agora mas juros longos cada vez mais altos.

Juros de 50%
Por incrível que pareça já foi assim


CZB - 3T20 - ONDE INVESTIR NESSE CENÁRIO?

A CZB acumula perdas de 4,02% no ano, sendo que a carteira de ações (-16%) está um pouco menos ruim que o IBOV (-18,20%) e a carteira de FIIs bem menos ruim (-2,73%) que o IFIX (-12,59%). Setembro manteve o padrão do trimestre de não ser um mês muito bom pra quase todos investimentos. 

Acho que é hora de pisar um pouco no freio em renda variável pois já não temos mais tanta margem de segurança nesse momento. As boas empresas da bolsa não estão mais baratas como na época do corona crash.

Sei da minha incapacidade de afirmar com certeza se um ativo está caro ou barato. Mas é óbvio que quanto mais barato você compra a ação de uma empresa, maior a sua margem de segurança. E sempre que possível é o que tento.

Beleza então, vamos pra renda fixa pós-fixada, só 2% de Selic ao ano?

Ou alguém topa levar ao vencimento IPCA para 2026 pagando apenas 2,97% + inflação? Mesmo sabendo que se tiver que vender antes do vencimento vai perder uma boa grana tendo em vista que nossos juros não tem mais outro caminho senão o de alta?

Acho que nessas horas em que tudo é tão incerto, muitas vezes a melhor coisa é não fazer nada, ou melhor, deixar na Selic ou até na poupança mesmo. É muito pouco, mas dado a situação...

OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS...

Eleições americanas devem definir o caminho dos ativos. Independente de quem ganhe eu acho que as ações de tecnologia mesmo bem valorizadas ainda tem muito espaço pra subir.

Será que o mercado vai se assustar quando ver o rombo fiscal do governo americano? Um aumento de impostos para cobrir esse rombo vai fazer os lucros das empresas e por consequência as ações caírem junto.

E gostando ou não: um dia ruim na bolsa americana é um dia ruim nas bolsas do mundo todo.

CHEGOU A HORA DOS IMÓVEIS?

Chance de fuga para ativos reais diante de juros baixos que podem se beneficiar de um cenário de inflação.

Por isso creio que seja um bom momento para comprar imóveis. Nós nunca tivemos e não sei se teremos num futuro recente uma oportunidade de juros tão baixos para financiamento imobiliário. 

Os grandes bancos estão oferecendo taxas da ordem de 6 a 7,5% ao ano se você receber seu salário por ele. Há cerca de 3 anos com muita luta contratei meu financiamento com uma taxa de quase 10%.

A Caixa teve R$ 11 bilhões contratados para financiamento habitacional somente no mês de junho. Conversei com um corretor que teve no mês de maio o recorde de vendas na sua profissão em 10 anos.

E se você parar pra pensar, com juros tão baixos, percentualmente são poucos no país que se sentem confortáveis de investir em renda variável. Faz muito sentido que essa parcela da população invista em imóveis, algo bem tradicional aqui.



"Hoping for the best, prepared for the worst"

8 comentários:

  1. Bom post, Zé!

    O cenário global está muito incerto. E, para compensar, além do cenário global com pouca previsibilidade, temos ainda o plus já tradicional do cenário brasileiro, com problemas de ordem econômica, política e fiscal.

    A questão dos imóveis como investimento, ainda mais se for imóvel real e não em fundo de investimento, não tenho tanta certeza que seria uma boa, ainda mais se for pensando em longo prazo.

    A tendência é que a população brasileira pare de ter crescimento real a partir de meados dos anos 2040, o que fará com que a demanda por imóveis tenda a cair. Além disso, tem a questão do aumento da tendência do teletrabalho, que deve fazer com que haja uma demanda cada vez menor de salas comerciais nas grandes cidades (que pode se tornar mais oferta de imóveis residenciais) e talvez uma diminuição da procura por imóveis nos grandes centros urbanos.

    Abraço.

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  2. Tá bem complicado o cenário para investimentos no Brasil.
    RF já era, só serve para o dinheiro ficar lá parado e não perder muito valor.
    RV altamente especulativa, perdi muito na bolsa esse ano e já estou jogando a toalha no sentido de que não conseguirei diminuir muito meu prejuízo até dezembro.
    Ações boas, ações ruins tá tudo muito incerto, como citei altamente especulativo. Já entrei em ações "boas" onde fiquei meses sem retorno nenhum, tem ações "ruins" onde se pode ganhar bastante ou perder bastante num dia.
    Fundamentos em muitos casos estão sendo ignorados, tem investidores presos a meses a ações que ainda não chegaram em seus preços médios.

    Imóveis são em geral investimentos com valor de entrada alto, o que já inviabiliza para maioria dos pequenos investidores, que muitas vezes nem tem imóvel pra morar.
    Fora o risco de um imóvel "encalhar" na hora da venda.

    Sinceramente não sei ao certo o que fazer, mas como disse no momento estou desanimado e receioso no que vou fazer, até pra não perder mais dinheiro.
    Mas vejo que a possível saída é emprrender em algo de baixo custo, mas tem que se ter conhecimento e um bom nicho de mercado.

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    1. Para o curto e médio prazo se a pessoa tiver capacidade e uma boa ideia, empreender seria uma boa. Não é meu caso pelo menos no momento.
      Quanto aos resultados negativos dos investimentos em RV, sempre teremos anos e bons e ruins. Acho que vale a pena ter foco no longo prazo.
      Mas como você falou, está bem complicado mesmo.

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  3. Fala Zé Batalha,

    É, realmente esse ano foi bastante difícil no mundo da renda variável.

    Para muitos foi uma queda de 120k para 60k e que representou uma perda de 50%.

    Porém para outros, uma subida de 60k para 100k e que representou um lucro de um pouco mais de 60%. Algumas pessoas operam no longo prazo, outras no curto prazo, mas acredito que todos devem ter uma boa gestão de risco. Isso é muito importante.

    Nunca apoiei a ideia de que somente se deve vender no lucro, que se o ativo está no prejuízo você deve casar com ele até voltar a dar lucro. O que vejo é que muitas vezes as pessoas não sabem assumir as perdas.

    Em 2020, completei o meu primeiro ano de bolsa, e desde o início sempre fiz um gerenciamento muito forte em cima das perdas, não dando oportunidades do prejuízo aumentar. Isso me fez com que eu assumisse um bom (mas controlável) prejuízo no início do corona crash e me deixou liquido para comprar no momento de baixa, potencializando os meus lucros. Com isso consegui um bom rendimento esse ano.

    O que quero dizer é que por mais difícil que seja decidir aonde investir, o cenário escolhido deverá ter um severo gerenciamento dos riscos. Acredito que assim é possível evoluir o patrimônio.

    Abraços meu caro. Até mais.

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    1. Fala meu chapa de perseverança financeira!!

      Muito bacana a sua análise. Concordo totalmente.

      Existem várias formas de se operar na bolsa e realmente cada um deve definir a estratégia que tenha a ver com o seu perfil e como você bem mencionou não esquecer de mitigar riscos, algo essencial principalmente para nós que somos pequenos investidores.

      Creio que seja essencial ter essa disciplina para seguir um método, pois se o cara for misturar todos esses tipos de estratégias que existem: trade, day-trade, value investing, buy and hold e etc, a pessoa vai ficar é louca e ainda perder dinheiro... rs

      Obrigado pela contribuição e um grande abraço!

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  4. A impressão que tenho é que estamos à beira de um choque financeiro no Brasil. Eu não tenho coragem de comprar imóveis com o atual nível de desemprego e acho que os juros estão artificialmente baixos no Brasil. A Bolsa está em uma patamar elevado para a dimensão do nosso problema econômico. Vale lembrar que esses 100k atuais é consequência da alta de algumas poucas ações. A maior parte das ações ainda estão na lona. No final, acho que esses "gênios liberais" (Paulo Guedes, Roberto Campos Neto e etc) vão acabar afundando o Brasil.

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    1. Acho que esse choque financeiro é um cenário possível e eu temo que ocorra.
      Não vejo relação entre compra de imóveis e nível de emprego. Basta ter crédito e se sentir confortável pra comprar, mas claro vai de cada um.
      Talvez o maior erro que pode causar um grande problema para o futuro do país seja esses juros tão baixos, longe da realidade fiscal que temos.
      E é claro que se as coisas ficarem muito piores toda culpa vai recair nos citados "gênios liberais". Normal, principalmente aqui.
      Poucos vão lembrar que tivemos "só" uma pandemia no período... e menos ainda vão lembrar dos "gênios desenvolvimentistas" da nova matriz econômica, campeões nacionais, MP 579 que começaram a cavar o buraco que o Brasil se encontra hoje.

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    2. Meio forçado chamar o Paulo Guedes de liberal. O cara defende subsídios fiscais para empresas, zona franca de Manaus, quer tributar ainda mais o consumo. Esse mercado dele não tem nada de livre.

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