Quando criança, e até boa parte da minha adolescência, fui daqueles
torcedores fanáticos. Lembro bem do dia em que o São Paulo perdeu a
final do brasileiro de
19901989 para o Vasco. Chorei pra
caramba. Lembro muito também das finais do mundial interclubes de 1992 e
1993, quando assistia o jogo muito nervoso naquelas madrugadas. Teve um
ano que o São Paulo foi desclassificado na semi-final da Libertadores
para o Once Caldas. Nesse dia nem dormir eu consegui direito por conta
da raiva que tive...
Acho que minhas últimas grandes emoções ao
assistir um jogo de futebol foram a conquista do tricampeonato do São
Paulo em 2005 (tanto da Libertadores, como do Mundial) e o
pentacampeonato da seleção brasileira em 2002. Depois desses, não me
lembro mais de grandes alterações do meu estado de nervos ao assistir um
jogo. Assitir jogo de futebol é um dos meus
hobbies favorito,
assisto muito mais hoje em dia do que antigamente (estou ficando cada
vez mais parecido com meu pai), seja série A, B, ligas européias, mas
dependendo do nível da partida eu dou a atenção devida, ainda mais
atualmente pois estão transmitindo até jogo do campeonato russo (e eu
cheguei a assistir um jogo...). Jogos que não sejam tão importantes eu
fico fazendo outra coisa e acompanhando só de relance.
Apesar de
gostar muito de futebol, já faz um tempo que me decidi a não mais me
chatear com isso. Quero ter o futebol pra mim somente como uma fonte de
diversão. Se meu time ganha, eu comemoro; se perde, eu simplesmente mudo
de canal, vou assistir um filme ou fazer qualquer outra coisa, sem
crises.
Nunca
fui muito de ir pra estádio mas acho interessante e respeito os
chamados "ratos de estádio". São pessoas que tem muita dedicação ao seu
clube de coração: não perdem uma partida, muitos participam dos
programas de sócio-torcedor, às vezes sem nem ter tantas condições
financeiras para tanto. Sei da emoção que é torcer para o seu time ao
lado de tanta gente que se une naquele momento em prol de um mesmo
propósito, mas acho que por nunca ter tido esse costume de ir a
estádios, de nunca me envolver até tal ponto, consigo ver o futebol de
uma forma, digamos, um pouco mais "fria", atualmente.
Cada um tem o
seu jeito de torcer. Uns ficam mais felizes em sacanear com o time do
adversário quando perde do que quando o seu time ganha. Outros fazem
vistas grossas a qualquer crítica feita ao seu time. Tem torcedor de
tudo quando é jeito.
Meu pai é um tipo interessante de torcedor,
bem engraçado, um dos mais críticos que já vi. A coisa mais difícil do
mundo é ele elogiar os times dele. Aliás, o futebol brasileiro em geral.
Pouca coisa presta pra ele no futebol hoje em dia :) Mesmo quando os
times que ele torce (Santos, Flamengo, Ceará, Vitória) são campeões de
alguma competição ele reclama, dizendo que "não entende como um time tão
fraco pode ser campeão".
Regionalismos
Uma das questões
mais polêmicas que costumo conversar com amigos é o fato de ser "certo"
ou "errado" torcer para um time de outro estado, em especial aqueles que
moram no Nordeste que é o nosso caso (com muito orgulho, por sinal).
Desde
que me entendo por gente, na faixa dos 5/6 anos de idade que eu optei
torcer para o São Paulo. Lembro como se fosse hoje: ganhei um jogo de
botão de presente e, acho que como não tinha ninguém que eu conhecesse
que torcia São Paulo, acredito que fui o primeiro da turma. E tive
sorte, no ano seguinte (1986) o São Paulo, de Careca, foi campeão
brasileiro em cima do Guarani, de Evair.
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Careca erguendo a taça de campeão brasileiro de 1986 |
Mesmo
sendo baiano (com muito orgulho também), e ainda hoje morando em
Fortaleza há mais de 14 anos, não vejo problema algum em se torcer para
um time de fora do meu estado, da minha região, afinal antes de tudo eu
sou brasileiro.
O grande problema é que com o tempo, a gente
descobre como as coisas vão funcionando e vê outras coisas que realmente
são difíceis de aceitar. Muitas vezes o tratamento que é dado por
muitos veículos da mídia (e de outras organizações envolvidas com o
futebol em geral) às equipes do eixo sul/sudeste é diferente do que é
dado aos nordestinos. Se for começar a falar da grande diferença de
cotas de TV, aí é que a conversa vai longe mesmo. Entendo que as
torcidas dos times dessas regiões são maiores, a estrutura em geral
também não tem como comparar, mas acredito que deveria haver mais
igualdade na hora de tratar os clubes da mesma forma. Poderia se adotar
aqui um esquema parecido com o norte-americano, que privilegia a
competitividade entre as equipes, e não o abismo entre as mesmas.
"Qual a lógica de privilegiar quem já é privilegiado?"
Acho
que o dia que eu cheguei no meu limite foi quando, ao assistir o "Bem
Amigos", o Arnaldo César Coelho estava comentando um lance polêmico de
um jogo entre Bahia e Vitória, pelo campeonato baiano. Ao explicar a
situação de possível impedimento que ocorria no lance, ele falou mais ou
menos assim: "O camisa 9 fez o passe mas esse 'moreninho aqui' está na
mesma linha desse outro jogador aqui." Pô, o cara não se deu ao mínimo
trabalho de saber apenas 3 nomes dos jogadores envolvidos no lance. Se
fosse o Flamengo, tenho certeza que ele saberia o apelido, nome
completo, filiação e RG do cara e se errasse ainda levaria uma bronca.
Na hora parecia mais um cara comentando um racha do que um jogo de
futebol de um campeonato profissional. No tele-jornal, muitas vezes
mesmo os gols do Ceará, um time que joga na série A do futebol
brasileiro, são mostrados em poucos segundos. Agora tem time aí que não
precisa fazer muita coisa pra ter uma matéria de 15 minutos de
telejornal.
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Para as cotas de TV!! |
Foi
por causa de coisas desse tipo que eu mudei um pouco. Só percebi de uns
tempos pra cá a importância de se valorizar o esporte local. Não deixei
de torcer São Paulo, nem nunca vou deixar, mas são por esses motivos
que hoje em dia também torço muito para os times do Nordeste, em
especial os da Bahia e do Ceará. Se quem mora aqui no estado não der
apoio, com quem podemos contar então? Pode parecer estranho mas fiquei
até feliz quando vi o Bahia ganhando do São Paulo um dia desses, pois é
Nordeste, jogou com raça e ganhou merecidamente.
Dentre os times
daqui do estado, escolhi torcer mais pelo Ceará, mas por que? Em
primeiro lugar, meu pai torce pro vozão -> Se o vozão ganha, ele fica
feliz -> Se ele fica feliz, eu também fico feliz. Simples assim :)
Alem disso, a maior parte da minha família também torce para o
alvinegro. Influência familiar é algo que ajuda bastante no momento de
se escolher qual time quer torcer.
Aí você me pergunta: E se o
Ceará joga com o São Paulo? Confesso que não tenho uma resposta. Seria
incapaz de torcer contra o São Paulo, mas também hoje não consigo torcer
contra o Ceará. Por mais estranho que pareça, acredito que vou torcer
para o time dependendo da situação em que cada um se encontrar, quem
mais estiver precisando naquele exato momento, que tiver merecendo a
vitória, sei lá... vai depender das circunstâncias.
A minha maior
torcida hoje em dia é pra ver Bahia e Ceará se mantendo na Série A,
Icasa se mantendo na Série B, e é sério, torci pro Fortaleza se manter
na série C. Algo impensável pra quem se diz torcer pro Ceará, mas o
prejuízo para o futebol cearense seria muito grande ter um time como o
Fortaleza caindo para Série D.
Como sou um apreciador do bom futebol, de uns anos pra cá, costumo acompanhar os
jogosespetáculos do Barcelona. Em um mundo cheio de times retrancados, como
não torcer para um time que oferece um show de futebol ofensivo como é o
que vemos atualmente? Acredito que pelo fato de eu ter conhecido a
cidade de Barcelona e assistido lá num telão a final da Copa do Rei em
2009, isso tenha contado pontos também.
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- Barcelona 2009 - 6 títulos somente nesse ano
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Ou seja, mais uma forma de torcer, cada um tem seu jeito. Por mais louco e estranho que pareça esse é o meu.