Previsões servem pra pouca coisa. No final se você acerta as pessoas te acham incrível, mas a verdade é que não passa de sorte, pois são tantos eventos possíveis que nenhum ser humano tem esse poder de adivinhar por competência.
Quem poderia prever o que aconteceu num ano louco como 2020? E já tem muitos tentando prever quanto vai bater o IBOV ou a próxima crise que claro, pode acontecer.
De qualquer forma acho importante ter ao menos um mínimo de planejamento. É o que tento fazer, mas tenho ciência da força do acaso, o que por sinal me faz lembrar um livro bacana que li ano passado: O andar do bêbado.
Então vamos lá. Ciente de tudo que já falei até então, ou seja, que nada disso pode acontecer, tratarei agora das expectativas para este ano, tendo em vista os fatos atuais.
CENÁRIO NACIONAL E MUNDIAL
Após tantas previsões que uma crise hedionda chegaria, finalmente surgiu uma mas não foram os déficits globais nem os juros negativos que todos esperavam. Estes só ficaram maiores.
Nos EUA, temos indicadores hoje similares ao da crise das “.com” em 2000. O que não quer dizer que estamos em outra bolha pois tudo hoje é bem diferente: empresas de tecnologia já dão ótimos resultados há um bom tempo.
Você só sabe que existe uma bolha depois que ela estoura. Muitos falam isso porque não entraram no ativo enquanto observam ele subir demais.
A resposta pra todos os problemas já faz décadas é baixar os juros. Mas acho que chegamos num limite.
As expectativas de volta do crescimento se confundem com os riscos de crise de endividamento mundial. Nos EUA a Dívida/PIB saiu de 73% em 2008 para mais de 100% em menos de 10 anos. Tudo isso bem antes da pandemia.
Apesar dos keynesianos falarem que "no longo prazo todos estaremos mortos", aqui no Brasil creio que o risco de problemas por endividamento é ainda maior.
Sobre endividamento, eu fico com a pureza da resposta das crianças... |
No Brasil
Há uma expectativa de retomada econômica, como não podia deixar de ser tendo em vista a acentuada queda que ocorreu em 2020. Mas uma retomada não quer dizer uma recuperação, pois para voltar aos melhores níveis que já tivemos deve demorar muito mais.
Acho que inflação não assusta tanto assim. As pressões inflacionarias devem cair com o desemprego e o fim dos estímulos, se é que eles vão ocorrer logo, pois há chances deles se estenderem por mais alguns meses.
Isso por conta da continuidade da gravidade da pandemia, o que pode fazer tais estímulos serem necessários para a população mas vai fazer a dívida crescer ainda mais.
O BC abandonou o forward guidance, logo juros devem subir este ano para conter a inflação, mas acho que patamares de 2 dígitos ainda são bem improváveis.
Por conta disso acho difícil ver a bolsa render menos que a renda fixa no longo prazo. Se as empresas voltarem a ter crescimento de lucros, serão mais rentáveis que os juros e com isso as ações serão mais rentáveis que o CDI a longo prazo
Ativos promissores para 2021
Uma aposta quase unânime dos profissionais para o ano que vem é a alta das commodities, puxada pelo retorno do crescimento chinês, algo que pode beneficiar os emergentes, e portanto o Brasil. VALE saiu de R$60 em novembro passado para perto de R$100 esses dias.
Imóveis também tem boas chances de valorizar. Juros baixos e uma grande oferta ao crédito pelos grandes bancos, tendo em vista que é uma das formas deles ganharem mais dinheiro agora. Se os juros se mantiverem baixos esse movimento deve ir longe.
Ações de bancos e outros ativos mais seguros que não se valorizaram tanto em 2020 também podem entrar nessa festa. Isso explica muito das valorizações recentes na nossa bolsa.
Na CZB-Ações: VALE3, EZTC3 e ITUB3 podem se beneficiar desse cenário.
O mercado financeiro parece ter abraçado mesmo as criptomoedas. Algo que pode representar uma continuidade nas altas, ao mesmo tempo que algumas delas já estão no radar da SEC.
PROBLEMAS FISCAIS E ENDIVIDAMENTO
O maior problema que vejo é a questão fiscal, que está bem crítica aqui no Brasil. A dívida bruta do país saiu de 76% do PIB para mais de 90% em menos de um ano, e deve bater 100% em breve.
Esse problema de endividamento não é algo exclusivo do Brasil. Vários países desenvolvidos tem o mesmo problema como já falei, mas o caso deles é diferente.
Desde os anos 90 que dizem que o Japão vai quebrar e nada aconteceu. Tanto ele como os EUA tem um endividamento louco. O primeiro tem mais de 200% e o segundo mais de 100% do PIB.
Mas ainda assim eles têm muito mais fôlego fiscal para aumentar sua dívida do que o Brasil. Enquanto nossa expectativa de taxa de juros daqui a 10 anos está perto de 8% hoje, a deles está na faixa de 0%. Alguma dúvida em quem o mundo confia mais?
Tivemos governos recentes com pegadas keynesianas estimulando gasto estatal achando que poderíamos gastar de forma similar a China para crescer de forma parecida.
Mas na China as coisas funcionam. A burocracia chinesa é baseada em meritocracia, eficiência e produtividade. Aqui, não. Nossas estradas, pontes, aeroportos e metrôs passam décadas para serem concluídas, (quando são concluídas), nossos hospitais sofrem falta de medicamentos e por aí vai...
Essa é a minha visão mas claro que há sempre um gráfico para "comprovar" o cenário que você aposta.
NO PESSOAL E PROFISSIONAL
Há um assunto que por vezes me pego escrevendo mas acabo desistindo. Alguns colegas até sugeriram pra eu falar disso no blog.
É o maior medo em 11 de 10 funcionários de estatais: uma palavra que começa com PRI e termina com ZAÇÃO...
Acho que até sou capaz de fazer uma análise bem pragmática pois tento ao máximo não defender um grupo político ou ideológico. O Batalha Way of Life se trata de tentar ao máximo agir com racionalidade.
Mas a polarização está tão grande e chata hoje que procuro evitar falar disso pois sei onde pode parar, mas sei lá... quem sabe um dia eu resolva escrever sobre.
E por que falo disso aqui num post de expectativas? Porque, como funcionário de uma estatal, seria uma das poucas coisas que hoje poderia me afetar de forma considerável. Então vamos lá.
Melhor cenário
Ninguém privatiza nada nem interfere no dia a dia de trabalho do Zé Batalha
Zé Batalha continua batalhando só esperando as próximas batalhas... |
Pior cenário
Rola a privatização...
Ultraliberais, ancaps e escola austríaca de economia pegam o Zé Batalha pelo pescoço. Mas perceba em seu semblante que nada vai quebrar a harmonia dele. |
Quanto mais analiso a questão mais otimista fico. Quanto mais persevero mais tranquilo eu fico. A única coisa que não tem mudado ano após ano é a perseverança do Zé Batalha.
Mas os batalhadores não se iludem. Esperam pelo melhor mas se preparam para o pior. Eles têm consciência do que é a vida, do que é o mundo, como diria o mestre Rocky Balboa: